quinta-feira, 4 de março de 2010

Cultura, para que te quero?

Olá, pessoas lindas... hoje, abro espaço para quem realmente entende!!! Um cheiro...

Cultura, para que te quero?

Antonio Maciel*


Essa é uma pergunta que deve pairar na mente de muitos políticos. Poucos compreendem a dimensão, ou melhor, as dimensões da cultura e seu lugar no campo de desenvolvimento social e econômico da cidade. Muitos não conseguem pensar cultura como caminho de transformação. Não conseguem entender que o cidadão ao ampliar a leitura de mundo, poderá valorizar melhor suas idéias e realizações e até contribuir efetivamente com o município, não sabem que direitos culturais são parte dos direitos humanos (artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), e nos artigos 13 e 15 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), com direitos civis, econômicos, políticos e sociais. Ou será que sabem e não estão nem aí para o que pensam? Acho mesmo pouco provável que muitos consigam dizer o que é cultura a partir da ótica hoje discutida. Talvez, debrucem o olhar exclusivamente para as expressões artísticas consagradas. Elas são importantes e devem existir políticas voltadas para elas. Entretanto, devemos pensar além de sua manifestação, enxergar como podemos através delas levar a mudança no pensar e fazer das comunidades. Concordo quando diz Bernardo Machado: ” os direitos culturais são os menos conhecidos e praticados e por isso chamados de “primos pobres” dos direitos humanos”.
Existe um documento denominado “Recomendação sobre o Status do Artista (1980)” que convoca os governos dos Estados- membros da ONU a “ajudar a criar e sustentar não apenas um clima de encorajamento à liberdade de expressão artística, mas também as condições materiais que facilitem o aparecimento de talentos criativos.”
É preciso que os políticos pensem sobre políticas públicas incluindo as políticas culturais. Precisamos compreender que a cultura pode contribuir para o sucesso da política de saúde, de educação (sem que necessariamente ocupe a mesma pasta administrativa), política econômica, social, e tantas outras. É preciso pensar e desenvolver políticas para a inclusão social através da cidadania cultural. Criar meios para a participação e produção.
Não faltam exemplos de atividades socioculturais que mobilizam jovens e comunidades visando a inclusão com consciência cidadã. A Fundação Coral Canto das Artes, da professora Leniza Santos, é um exemplo. O CRIA, em Salvador, é outro grande exemplo. Durante uma das etapas do curso de gestão cultural que faço em Salvador, assisti a uma apresentação de teatro de jovens do CRIA. Escutá-los depois, mexeu comigo, me despertou, me encheu de esperança. Fiquei realmente impressionado com discursos de meninos e meninas, demonstrando segurança, conhecimento da realidade deles, e conscientes da participação de cada um na mudança da qualidade de vida individual e coletiva. Ferreira Gullar escreveu: “Poderia dizer (...) que a revolução caminha com pés de borracha nas grandes cidades (...) O poeta mente. E, mesmo impactado com a realidade, conclui: “(...) não digo que a vida é bela, tampouco me nego a ela - digo sim(...). Eu ouso dizer, inspirado nele, que a revolução social, especialmente, com jovens e crianças, pode estar começando com instituições como o CRIA, como o Coral Canto das Artes, em Itapetinga. Ações assim me fazem acreditar que é possível. Mesmo sabendo do caminho pedregoso e longo a percorrer - digo sim, é possível! Quiçá, a revolução não pode estar começando com pés de instituições socioculturais pelos cantos do país?
Uma política cultural consciente e consistente é o que precisamos. Todos ganham com isso. Cultura não pode ser vista como despesa. Cultura é investimento, especialmente humano!


*Representante Territorial de Cultura – Itapetinga
Superintendência de Cultura
Secretaria de Cultura da Bahia