sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um papo sobre a Língua Portuguesa


Encontrei outro dia uma ex-aluna à qual tento convencer a voltar à escola. O argumento principal para resistir a isso, segundo a própria aluna, é quanto às mudanças na Língua Portuguesa. “Mudou TUDO, não vou conseguir aprender.”
Desde que comecei a trabalhar com a Língua Portuguesa venho tentando transformar essa ideia equivocada que a própria escola passou aos estudantes. A ideia de que a língua estudada não é a mesma utilizada em seu dia-a-dia. Como uma pessoa pode dizer que não sabe uma língua que usa o tempo todo? Como já disse Sírio Possenti, professor do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, “todos os que falam sabem falar.” E quanto às mudanças, a língua sempre foi dinâmica e sempre se modificou, e todos sempre acompanharam as transformações. Ou algum brasileiro ainda diz “Vossa Mercê” ao invés de “você”? Talvez a diferença agora, e aí também tenho minhas críticas a esse “acordo ortográfico”, é que pela primeira vez as transformações vêm impostas de cima para baixo. E as pessoas se apavoraram. Como todas as leis, tenho que cumprir, senão serei punido? Não! A língua padrão deve ser assimilada porque é a que realmente “abre portas” neste país, não porque é a única possível, e as novas regras estão incluídas nesse “pacote”. Assim, continuaremos a usar a língua como sempre o fizemos, e muito bem, caso contrário não conseguiríamos nos comunicar, mas vamos, juntos, assimilando formatos que para nós são novos, sem nos estressar e sem pensarmos que é algo dificílimo ou mesmo impossível, como já ouvi de alguns. Gente, as regras mais difíceis da Língua Portuguesa nós já sabemos. E, baixinho para ninguém ouvir, aprendemos FORA da escola, no nosso contato com outros falantes da Língua. Quando, finalmente, os inúmeros falantes da Língua Portuguesa se derem conta disso, cairá por terra aquela ideia absurda de que “não sei português; também, é a língua mais difícil do mundo!”
E voltando ao Sírio Possenti,
“Todos os que falam sabem falar. Saber falar significa saber uma língua. Saber uma língua significa saber uma gramática. Saber uma gramática não significa saber de cor algumas regras que se aprendem na escola, ou saber fazer algumas análises morfológicas e sintáticas. Mais profundo do que esse conhecimento é o conhecimento (intuitivo ou inconsciente) necessário para falar efetivamente a língua.” (Sírio Possenti em “Por que (não) ensinar gramática na escola”)
E então, Você sabe falar? Você sabe a gramática da Língua Portuguesa?